Beber água reduz os efeitos colaterais da vacina contra a covid-19?

Uma boa hidratação pode ajudar a evitar a contaminação pela covid-19. Mas cientistas não sabem exatamente como e por que beber água antes de receber uma vacina pode alterar a reação do sistema imunológico.

O conselho vem de vizinhos, artigos de revistas, sites de clínicas e até de enfermeiras: beba muita água antes e depois tomar a vacina contra a covid-19 para ajudar a evitar efeitos colaterais.

O problema é que não há evidencias de que beber mais agua ajude a evitar dores no local da injeção, no corpo, ou febre, reações que algumas pessoas apresentam depois de receber a vacina contra covid-19. Beber muita água também não reduzirá as chances de desmaios para pessoas que têm fobia de agulhas.


Cientistas não conduziram estudos clínicos randomizados para verificar como o ato de beber — ou não beber — água antes de receber uma vacina pode afetar os níveis de anticorpo ou outras reações do sistema imunológico. Essa é uma questão complicada de resolver, em parte porque a resposta imune segue dois caminhos principais: a longo prazo, ajuda o corpo a produzir defesas duradouras contra o vírus e, a curto prazo, ajuda o corpo a produzir defesas duradouras contra o vírus e, a curto prazo, a vacina também causa a resposta imune "inata", que é responsável pelos efeitos colaterais que algumas pessoas sentem após tomarem vacinas. Os pesquisadores têm opiniões conflitantes sobre o papel da água nesses processos.

Estudos feitos com sapos (um parente distante dos humanos) sugerem que a desidratação extrema pode suprimir o sistema imunológico, dificultando a comunicação entre as células, afirma Sonia Sharna, imunologista do Instituto de Imunologia La Jolla, na Califórnia. Em humanos, a desidratação pode ser um entre vários fatores de estresse e maus hábitos relacionados à saúde que atrasam a produção de anticorpos, ela acrescenta. E algumas pesquisas sugerem que as pessoas sentem mais dor quando estão desidratadas, conta Jodi Stookey, antiga epidemiologista nutricional no Instituto de Pesquisa do Hospital infantil de Oakland, na Califórnia.

Mas estudos mostram que beber água em excesso também apresenta um risco para a saúde, causando queda nos níveis de sódio e resultando em dores de cabeça, fadiga, convulsões e até mesmo morte. Muitos especialistas argumentam que, fora de contextos como calor em excesso ou exercícios de resistência, adultos saudáveis obtêm com facilidade uma quantidade suficiente de líquidos através de alimentos e bebidas — mesmo que se sintam indispostos durante um ou dois dias após a aplicação da vacina.
E embora a água seja útil na prevenção de cálculos renais e infecções urinárias recorrentes, para pessoas que tentam aumentar a resposta do sistema imunológico ao mesmo tempo em que minimizam os efeitos colaterais, é improvável que a água resolva o problema sozinha. "A água não é uma solução mágica que vai gerar a melhor resposta do sistema imunológico", afirma Sharma. "Ela é parte do conjunto de hábitos saudáveis que promovem um sistema imunológico saudável".

Pesquisas com atletas de resistência levantam dúvidas sobre o potencial da água em influenciar o sistema imunológico. Sabe-se que exercícios prolongados, como corridas de maratona, causam um aumento nos hormônios do estresse, que podem reduzir a função dos glóbulos brancos por várias horas e fazer com que os corredores fiquem mais suscetíveis a adoecer logo após um longo esforço, explica Michael Gleeson, professor emérito de bioquímica dos exercícios na Universidade de Loughborough, no Reino Unido, que estuda nutrição e resposta imune relacionada aos exercícios.

Os glóbulos brancos incluem os linfócitos T e B, que são responsáveis por localizar agentes infecciosos, formular uma defesa e desenvolver anticorpos que reconhecem e memorizam esses agentes infecciosos. No entanto, quando os pesquisadores pediram para os atletas beberam mais água e manterem a hidratação durante as corridas, o sistema imunológico deles mostrou o mesmo nível de supressão comparado com corredores que ficaram desidratados.

"A ideia de que beber água pode ajudar a evitar os efeitos colaterais da vacina contra a covid-19 é incoerente", diz Gleeson. "A água não influência as funções do sistema imunológico".

Também é pouco provável que beber água ajudará a evitar desmaios. Cerca de uma em cada mil doses de vacina administradas desencadeiam uma reação vasovagal que causa tontura e, ás vezes, desmaio nos primeiros 15 minutos após a injeção. Com base na evidência de que as pessoas têm menos probabilidade de desmaiar se beberem água antes de doar sangue, Alex Kemper, chefe do departamento de cuidados primários de pediatra no Hospital Infantil Natiowide, em Columbus, no estado de Ohio, solicitou que centenas de pessoas, com idades entre 11 e 21 anos, bebessem até dois copos de água uma hora antes de tomaram uma vacina, ou que tomassem água como de costume. Ele descobriu que a maior ingestão de água não alterou a probabilidade de tontura ou sensação de desmaio. "A conclusão é que a água não fez diferença", afirmou Kemper.




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